ESG: conceitos básicos
A sigla ESG, originada das palavras em inglês environmental, social and governance, engloba as práticas ambientais, sociais e de governança adotadas pelas empresas.
Quando surgiu o ESG?
Esta abordagem surgiu em 2004, quando a parceria entre o Pacto Global e o Banco Mundial deu origem à publicação intitulada “Who Cares Wins”.
Essas três dimensões – ambiental, social e governança – estão sendo cada vez mais consideradas por gestores financeiros na tomada de decisões de investimento.
A coleta desses critérios reflete uma mudança de paradigma, uma vez que as práticas de ESG, que anteriormente eram focadas em um público limitado de pessoas socialmente conscientes, agora são adotadas por empresas de grande porte durante seu processo de investimento.
Durante os anos 2000, tornou-se evidente para as principais instituições que a busca incessante pelo lucro não poderia mais ser sustentada, especialmente diante de prejuízos decorrentes de eventos como acidentes ambientais e mudanças climáticas.
Como resposta, em 2003, duas das maiores gestoras globais de fundos de pensões, Aberdeen e Fidelity, uniram forças e estabeleceram um marco importante: o “principles for responsible investment” (princípios de investimento responsável), um acordo voluntário comprometendo-se a desenvolver métricas ESG em colaboração com a ONU.
Nesse cenário, cada empresa se compromete a implementar as métricas ESG em suas decisões de investimento, ação especialmente valiosa desde a crise financeira de 2008/2009, onde tais análises permitiram mitigar riscos consideráveis para as carteiras de ativos. Esse enfoque, ao longo do tempo, estabeleceu uma relação equilibrada entre risco e retorno, um objetivo primordial para os gestores: maximizar ganhos e minimizar riscos.
ESG NA PRÁTICA:
1. Ambiental (E):
Sustentabilidade: Trata-se de como uma empresa aborda questões ambientais, como mudanças climáticas, uso de recursos naturais e redução de emissões de carbono.
Eficiência energética: O foco em usar recursos energéticos de forma mais eficiente para minimizar o impacto ambiental.
Gestão de resíduos: Como a empresa lida com a produção e descarte de resíduos, buscando práticas mais responsáveis.
Biodiversidade: Considerar como as atividades da empresa podem afetar a diversidade biológica e adotar medidas para preservá-la.
Transparência ambiental: A divulgação de informações claras e precisas sobre o desempenho ambiental da empresa.
Ao analisar os riscos ambientais de uma empresa, os gestores conseguem evitar ou diminuir multas e acidentes ambientais que levam a um custo enorme. Imagine uma petroleira, ela deve ter seguro para casos de derramamento de petróleo; uma mineradora, deve pensar em ações sustentáveis depois de abrir buracos no meio da floresta.
Um exemplo bastante conhecido é o da British Petroleum, a BP, que aconteceu em 2010 e causou um dos maiores derramamentos de petróleo na história, quando uma tubulação estourou no fundo do Golfo do México. Além dos sérios danos para a população da região, até hoje, há impactos ambientais gravíssimos na fauna e flora local. Como você deve imaginar, a empresa pagou bilhões de dólares de multas. Nesse cenário, um investidor da British Petroleum teve, indiretamente, um enorme custo, pois a organização não se preocupou em analisar e diminuir os riscos ambientais de maneira correta.
Outro ponto da questão ambiental é o inventário das empresas referente às emissões de CO2 ou CO2 equivalente, que são os gases do efeito estufa. Ao calcular esse inventário, os investidores conseguem monitorar se os números estão aumentando ou diminuindo. Isso é necessário, pois todo o mundo já está se regulando. Atualmente, 70% do PIB global já é regulado, ou seja, é questão de tempo que países, como o Brasil, que ainda não possuem regulamentação, entrem nessas regras.
2. Social:
Envolvimento comunitário: Como a empresa se relaciona e contribui para as comunidades em que opera.
Diversidade e inclusão: O compromisso em promover diversidade em termos de gênero, raça, etnia e outras características, bem como garantir inclusão no ambiente de trabalho.
Saúde e segurança: A preocupação com o bem-estar e a segurança dos funcionários e stakeholders.
Direitos humanos: Garantir que as operações da empresa respeitem os direitos humanos em todas as suas dimensões.
Responsabilidade na cadeia de fornecimento: Monitorar e assegurar práticas éticas ao longo da cadeia de suprimentos.
Um grande exemplo disso são as marcas de fast fashion ou de calçados. Ao longo dos anos, várias notícias surgiram sobre marcas famosas que tinham atividades no sudeste asiático não-reguladas. Essas empresas terceirizavam a mão de obra de moradores locais, com trabalho análogo à escravidão, chegando a pagar um dólar por 18 horas de serviço.
Além de ser um custo social enorme à região, atrasando o desenvolvimento e fomentando a pobreza, há também um custo de reputação, pois as pessoas não querem apoiar marcas que exploram pessoas. Então, do ponto de vista de investimentos, há um dano financeiro pelo dano à imagem da marca, bem como as multas locais. Então, o analista ESG deve analisar os riscos ambientais, os riscos sociais e, por fim, a governança.
3. governança:
Estrutura de liderança: A qualidade e independência dos membros do conselho e da alta administração.
Ética e integridade: A promoção de uma cultura corporativa que valorize a ética e a transparência.
Gestão de riscos: A identificação e gestão proativa de riscos que possam afetar o negócio.
Remuneração justa: Garantir que a remuneração dos executivos esteja alinhada ao desempenho e aos valores da empresa.
Divulgação de informações: A disponibilidade de informações financeiras e não financeiras relevantes para os stakeholders.
Se o controlador está se beneficiando às custas dos seus sócios minoritários, isso é errado e não deveria existir isso. Por exemplo, duas empresas brasileiras, uma de siderurgia e outra de papel e celulose, no passado, cobravam royalties da empresa pelo uso do seu nome. Isso é um absurdo completo. Você não pode forçar os seus sócios minoritários a pagarem pelo uso do nome da empresa.
Além disso, há casos de organizações que colocam o custo do jatinho particular, do haras e outras despesas pessoais dentro dos custos da empresa, sem abrir essas informações para os investidores. Ou seja, não faz o menor sentido que sócios minoritários paguem por gastos do controlador. Assim, é trabalho do analista verificar a governança desta empresa. 3
ESG o caminho mais sustentável para todos
Podemos dizer que o ESG trata de diversos fatores, cada um deles tendo mais afinidade com uma dessas definições. Atualmente, fica claro perceber que na composição de gerência das empresas brasileiras a maioria são homens, brancos e com idade acima de 60 anos. O ESG também deve promover os direitos e a igualdade. É necessário que existam mulheres, gays, negros e deficientes entre os stakeholders, colaboradores e clientes dentro de uma empresa.
Quando o ESG não é feito, há perdas enormes. Podemos citar dois exemplos, o da Sadia e Aracruz. Como na época não houve transparência em seus contratos, ou seja, os investidores não puderam conhecer as informações para tomar suas decisões, as empresas baixavam o seu custo financeiro, ao tomar posições em derivativos de câmbio que assumiam que o dólar sempre depreciaria em relação ao real.
Em 2008, o dólar foi de R$ 1,70 para R$2,60 e essas empresas tiveram perdas enormes. Para tentar reverter, foi preciso fazer fusões. Se os investidores ESG tivessem analisados os balanços, poderiam fazer a análise de gestão e do perfil de risco e evitar a quebra das empresas.
Outro exemplo da importância da análise ESG é o caso da empresa Vale. Depois do desastre de Mariana, muitos investidores evitam o setor de mineração por acreditarem que a empresa não tenha feito o suficiente para mitigar os riscos. Portanto, a análise ESG não avalia apenas o lucro, mas também os riscos que essa empresa corre.
Artwork @alexandraturban via Instagram
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