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“O storytelling orientado para controvérsias” e a crítica no Instagram e um olhar mais atento à (des)influência

Do marketing ao design de controvérsias

Bem, na verdade eu venho de uma formação que tem como principal fundamento o marketing, uma disciplina da administração que traz um conceito linear, hierárquico… e competitivo do mundo dos negócios. 

 

E por mais que eu tenha estudado comunicação, que tem processos mais criativos, na verdade o dia a dia dos negócios é muito sobre marketing. A gente tem prazo e tempo para vender.

 

E  o design traz uma realidade muito diferente, um processo muito mais aberto, colaborativo, multidisciplinar… e que, por conta disso, é muito mais propício à inovação e criatividade.

 

É  um processo de criação – na teoria – orientado para a diversidade. 

 

Mas como funciona isso na prática?

 

Por mais que se fale em diversidade no design, em multidisciplinaridade, pouco se fala sobre formas de estimular e / ou considerar a pluralidade de ideias / divergências / pontos de vista dentro de um projeto. 

 

Quando estudamos processos – workshops, metodologias de design thinking, etc, sempre aparecem formas de projetar e “chegar a um lugar comum”, chegar a “uma definição”… “reduzir” conflitos e tensões, o que também diminui o potencial criativo. 

 

E o meu estudo sobre storytelling e controvérsias foi sobre isso. 

 

O estudo das controvérsias é um conceito de pesquisa criado pelo sociólogo francês Latour, que se vale da análise de pontos de vista extremos como forma de entender a complexidade da sociedade contemporânea e estimular novos debates.

 

O foco é em estudar as relações entre pessoas e as divergências que se formam em torno de um mesmo assunto. 

 

Então ao longo dos anos ele criou diversas formas de apresentar as controvérsias. E eu criei a minha (!!!) e apliquei isso dentro de um processo de design. 

 

  1. Eu fiz um recorte de umsobre o tema (mulher, trabalho,  e empreendedorismo)” no contexto do Brasil e fui buscar as controvérsias sobre ele. Eu utilizei o recurso audiovisual para me ajudar a mostrar (fazer ver!!!) essas controvérsias, então eu criei um vídeo de 30min, com mais de 400 recortes de falas, de pessoas diversas, famosos, não famosos, dados de pesquisa… diversas histórias sobre o tema. 
  2. Após, eu apresentei esse vídeo em workshops com  mais de 18 pessoas, também diversas que também tinham características, vivências e pontos de vistas diversos sobre o tema
    1. Eu selecionei pessoas com opiniões contrárias sobre o tema e formei grupos. 
      1. Em um mesmo grupo eu inclui um homem, heterossexual, super conservador e uma mulher, feminista,  e LGBT, por exemplo. 
      2. Também coloquei pessoas neutras, que pouco pensavam e refletiam sobre o tema. 
      3. A diversidade da formação do grupo também foi em relação à idade, formação, atuação profissional, pontos de vistas. (Claro que todas me deram autorização,e eu expliquei pra todos como seria a metodologia, o tema, o assunto, etc.)
    2. No início do workshop, Mmostrei o vídeo e os convidei aconvidei para co-criar, questionando; “Como o design pode tratar o tema mulher, trabalho e empreendedorismo?”

 

O resultado foi incrível. Primeiro porque elas não tiveram apenas uma ideia, mas muitas ideias, ou seja, o meu método potencializou a criatividade. Ao assistir o vídeo, Eeles tinham um ponto em comum sobre o tema, mesmo sem se conhecer, sobre o tema.. Segundo porque elas tiveram empatia umas com as outras e com o que foi abordado no vídeo. Não era apenas sobre elas, e sim sobre o mundo. 

 

Não tenho noção de como as pessoas saíram dali. Mas uma das entrevistadasparticipantes, que no caso era super neutra sobre o tema, decidiu empreender logo após aquele momento, porque se sentiu fortalecida, inspirada, e relatou que nunca tinha se dado conta do “tamanho do problema”. Nunca tinha pensado…

 

Então é legal mostrar que é daí que vem o meu interesse. Eu sempre fui questionadora e observadora, pessoalmente e profissionalmente, o marketing te faz ser assim, sempre olhar para o mercado. 

 

Mas o design estratégico me trouxe umanovas nova perspectiva perspectivas para criar de projeto. M, muito mais plural, pensando na diversidade de públicos estratégicos que podem se relacionar, criando ideias muito mais criativas e abertas à inovação. 

 

Instagram: as controvérsias da vida real 

 

Quando a gente tá num projeto da vida real, normalmente a gente não tem tempo. As coisas são decididas por poucas pessoas, que normalmente têm as mesmas visões. Não se dedica tempo à pesquisa, à conversa, a entender as visões de pessoas diversas. E o mesmo acontece no mundo.

 

No nosso dia a dia as pessoas estão cada vez mais individualistas, abraçadas em suas causas e pontos de vista. Por mais que se tenha informação, há polarização, para um lado ou para o outro. Não se tem conversa. 

 

No meio disso, eu vejo o Instagram como um grande artefato, onde diversas pessoas criam suas histórias e mostram suas visões de mundo. 

 

Mas qual o impacto que isso causa?

Qual o impacto dessa diversidade em meio a uma pandemia?

 

Eu vejo duas questões:

 

#1 O lado bom é que as pessoas se informam. O design para fazer ver.  Hoje a gente encontra perfilencontra o perfil de tudo, que aborda sobre tudo.

  • @  Mas ele nunca me bateu: fala sobre a violência doméstica contra mulheres e apresenta relatos reais, inspirando, orientando, alertando.
  • @ Diet Prada: fala sobre o mundo da moda, critica o plágio, e expõe as fofocas desse universo.

 

#2 O lado ruim é que isso abre espaço para uma série de questões negativas.

 

Por exemplo, a cultura do cancelamento. 

No momento que tu tem um perfil como o @desin.fluencer falando especificamente de uma pessoa, tu gera uma fúria desproporcional. 

 

Esses perfis como o Diet Prada eles surgem sim para trazerem um contraponto, assim como o Desliga a Câmera (que fala especificamente sobre os bastidores dos Gurus do Marketing), a Rainha Mattos (Que conta os podres dos artistas), mas eles também despertam uma força muito negativa em algumas pessoas. 

 

O mundo  ideal seria se realmente existisse um equilíbrio entre essas controvérsias. 

 

A nova era do mundo dos influencers

Quando a gente fala em influência, eu acho interessante trazer um pouco mais sobre esse conceito. 

 

Eu tenho estudado bastante sobre neuromarketing, persuasão, que são técnicas utilizadas pelas empresas para fazerem com que as pessoas acreditem e comprem mais. E essa é a lógica do marketing. Talvez seja por isso que eu desacredite tanto… tudo tem um porquê por trás. E quem trabalha com marketing e comunicação, sabe disso. 

 

Claro que existem muitas coisas feitas para o bem, mas também para o “mal”. Exemplo: parcelamento de compras x crediário x juros… faz as pessoas comprarem mais, se endividar… é uma enganação… (isso é bem polêmico)… na moda, temos numa série de exemplos… infinitos. Não se pensa no contexto, nas pessoas, se pensa no lucro.

 

Tem um livro bárbaro que chama As Armas da Persuasão, onde o autor explica o processo neurológico que acontece com a gente quando a gente acredita, compra uma ideia… Boa parte das nossas decisões e julgamentos são automáticos. O que isso significa? A gente não pára para refletir sobre tudo e isso seria humanamente impossível. 

 

O nosso cérebro busca por atalhos.

 

Em um mundo complexo e cheio de informações, a gente utiliza uma parte da capacidade e energia do nosso cérebro para as decisões. 

 

E a gente precisa tomar decisões a todo o tempo. Claro que existe uma explicação muito mais profunda por trás. Mas em resumo: a gente acredita em símbolos, em dispositivos, e também em pessoas, sem questionar. 

 

Se vemos uma embalagem x, relacionamos a y.

O que “parece” ser bom, confiável…

Se vemos um “Dr.” escrito ao lado de um nome, já acreditamos que aquela pessoa é uma autoridade no que diz…

 

E é daí que vêm a tal da influência, e do marketing de influência. 

 

A gente não pensa, a gente compra, a gente acredita. Quando a gente vê está comprando, lembrando, associando. Ou nem sabe porque estamos tomando aquelas decisões.

 

O nosso cérebro leva uma fração de segundos para julgar algo e tomar decisões. É especificamente 0,05 segundos.

 

E imagina técnicas de marketing para persuasão aplicadas para uma multidão, o tempo todo, 24h no Instagram. Imagina. Vira uma bola de neve, o tal do efeito manada. 

 

O livro também diz que 95% das pessoas são influenciáveis e apenas 5% influenciadoras. 

 

No meio disso tem muita coisa podre, equivocada, pessoas influenciando super negativamente. Tem milhares de exemplos de médicos, por exemplo, fazendo campanha contra a vacina…

 

Então esses perfis de Instagram que se prestam a contrapor isso, em criar imagens, textos, se expor, compartilhar prints… têm ganhado muito sucesso por parte das pessoas que também se sentem revoltadas, mas não tem interesse ou coragem em falar. E vamos combinar, nada disso é novidade. Artistas sempre fizeram isso: Banksy x

Duchamp…

 

Mas a diferença é que no Instagram as pessoas marcam umas às outras, expõe prints… 

 

O que a gente está vivendo nesse momento hiperconectado é uma coisa única. As pessoas estão em casa, o uso da internet aumentou demais, redes sociais… está todo mundo ali, falando, querendo ouvir, se expondo. 

 

A gente ainda não tem dimensão do que isso significa pra história da humanidade. 

 

No mundo dos negócios hoje é possível virar milionário com a internet, e em pouco tempo.

 

Tem diversos cases que eu acompanho, de pessoas que saíram do nada e em poucos meses conquistaram uma legião de fãs, criaram uma comunidade e hoje… vivem disso. É massivo. 

 

O Brasil tem 220 milhões de pessoas, é um dos países mais conectados do mundo, que mais usa rede social… 

 

Mas o que as pessoas querem ouvir? Quem as pessoas querem ouvir?

 

Será que as pessoas são tão efeito manada a ponto de realmente não estar se questionando em pleno 2021?

 

A vez dos genuinfluecers

 

Genuinfluencers foi um termo que apareceu em um report da WGSN que diz que algumas pessoas na internet não querem te vender (pelo menos em um primeiro momento), mas que querem te fazer pensar. 

 

E aqui no Brasil a gente teve um case muito forte durante a pandemia que é a Gabriela Prioli, que vem com um visão super ampliada sobre política, que é jornalista, e que tem um jeito dela de orientar e educar, explicar temas complexos a grande massa. Ela tem hoje 1.9 milhões de seguidores.

 

Mas é importante de dizer que a primeira onda de influencers eram de pessoas, no geral mulheres, que vendiam produtos. E ainda tem muitas que seguem assim.

 

Mas as pessoas não querem isso, porque isso todo mundo faz. Todo mundo pode fazer.

 

As pessoas querem exemplos. Ídolos. Pessoas com as quais se possa conectar. Que tem um conteúdo para inspirar, além da vida de luxo, poder e glória.

 

Eles podem vender algo? Sim. Mas os “genuinfluencers” estão menos interessados ​​em promover produtos do que em divulgar ideias.

 

Olha o que foi o “fenômeno Juliette”. As pessoas querem se conectar à ela por tudo o que ela representa. 

 

“Comparados aos influenciadores regulares, os genuinfluenciadores ganham renome ao fornecer conselhos honestos sobre tópicos específicos.”

 

Nem todos os influenciadores são genuinfluenciadores – mas, de forma ainda mais confusa, nem todos os influenciadores genuínos são influenciadores. 

 

Os influenciadores genuínos geralmente já são especialistas em um determinado tópico e usam suas plataformas para fornecer aos usuários conteúdo informativo. Isso se opõe aos influenciadores – apenas influenciadores – cujas motivações online tendem a girar em torno do engajamento, em oposição à educação.

 

“Em 2020, algo começou a mudar, e foi devido a uma confluência de motivos, com 10 anos de justiça social, sobrecarga de tecnologia, desigualdades, esgotamento e aumento da consciência da saúde mental”, diz Sarah Owen, estrategista da WGSN. “2020 foi, de repente, sobre informação e entretenimento. Havia essa nova moeda que estávamos vendo em torno do conhecimento e da informação, e quase tinha seu próprio senso de capital cultural.”

 

“No futuro, os verdadeiros defensores, aqueles que têm mais seriedade, serão aqueles que criarão sua persona digital a partir de um contato com seus próprios valores”, diz Owen. “E cada vez mais, os influenciadores terão que de fato, de forma proativa, aprimorar suas habilidades para encontrar novos nichos dentro de si mesmos para melhor servir a sua comunidade.”

 

“Podemos ver que o aumento dos genuinamente influenciadores é sintomático de uma mudança em toda a indústria do marketing puramente para questões políticas e sociais”, disse. “O conteúdo nas redes sociais, com o tempo, parecerá menos com publicidade e parecerá mais direcionado ponto a ponto, com ênfase no conteúdo envolvente e perspicaz.”

 

Isso já demorou muito, mesmo antes da pandemia. À medida que o mundo muda, também mudam os indivíduos que nos permitem entrar em suas vidas, em qualquer grau que possam, e ajudam a moldar nossas atitudes em relação a esse mundo. Na verdade, isso demorou tanto que Owen argumentou que até foi escrito nas estrelas.

 

 

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